Na Netflix: thriller nacional inquietante expõe o abismo entre classes sociais e é um convite à reflexão


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
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Um filme brasileiro que vem dando o que falar é Propriedade, que estreou nos cinemas no final de 2023 e agora está disponível no catálogo da Netflix.

Dirigido pelo pernambucano Daniel Bandeira, o longa é o que se chama "cinema de gênero", combinando drama, suspense e terror em uma narrativa tensa que tem como pano de fundo a enorme desigualdade social brasileira, herança de um país colonizado e escravizado.

Na trama acompanhamos Teresa (interpretada brilhantemente por Malu Galli), uma mulher da elite que acaba de sofrer um episódio de violência urbana e decide se refugiar na fazenda da família com o marido.

A ideia é que ela tire um tempo no campo para se recompor do estresse pós-traumático, mas o que ela não sabe é que ali viverá momentos aterrorizantes.

Isso porque está em curso uma revolta trabalhista dos funcionários da fazenda que vivem em um regime exploratório que beira à escravização.

Avisados de que as terras serão vendidas e que serão despejados do lugar, eles se rebelam, o que dá início a uma sequência intensa de acontecimentos.

Um dos elementos simbólicos e importantes na história é o carro blindado que a protagonista se refugia para tentar se proteger do caos que toma conta do lado de fora.

Por que assistir Propriedade?

O filme toca em temas muito relevantes que merecem um olhar atento, como a importância de se fazer uma reforma agrária, o uso social da terra, a escravidão moderna, a violência no campo e na cidade, entre outros.

O diretor optou por abordar esses pontos de maneira não maniqueísta. Ou seja, ele não "escolhe" um lado, apenas mostra uma situação onde a polarização e o medo tomam rumos inimagináveis, chegando ao ápice do que uma realidade tão desigual pode provocar.

Assim, mesmo que alguns considerem o filme um tanto "desumanizador", é uma história interessante para levantar debates e reflexões acerca de todas essas questões que permeiam a sociedade brasileira há séculos.

O diretor Daniel Bandeira explica suas motivações da seguinte maneira:

Cultivamos com orgulho a imagem de um povo trabalhador e resiliente, mas precarizamos todos os aspectos da vida da classe trabalhadora. Menosprezamos seus desejos e suas revoltas.

Então caos é o que lhes resta. Meu foco não está tanto na ‘revolução armada’, que pressupõe uma organização mais complexa, mas no caos primordial, na rachadura que levará ao estouro da barragem. Esse caos me interessa enquanto cidadão e contador de histórias, pois ele pode se transformar em qualquer coisa, expor pessoas, respingar em qualquer um.

Mas ele também é fruto de uma construção histórica muito antiga, colonial, na qual nosso ‘pacto de cordialidade’ sempre atuou para suprimir um contato mais franco entre as classes. Não concordo com a violência, mas não me surpreende quando ela ocasionalmente irrompe.

Repercussão internacional

Propriedade foi exibido e aclamado em diversos festivais internacionais.

Sua estreia se deu no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2023. Recebeu o prêmio de melhor longa-metragem no Festival de Cinema Fantástico de Austin (Fantastic Fest), nos EUA. Também esteve presente em mostras importantes em Portugal, Escócia, Espanha, Holanda e Coreia do Sul.

No Brasil sua repercussão não foi tão grande, mas participou do Festival de Cinema de Gramado.

Ficha técnica

Título Propriedade (Original)
Ano produção 2022
Dirigido por Daniel Bandeira
Estreia 21 de Dezembro de 2023 (Brasil)
Duração 100 minutos
Classificação 16 - Não recomendado para menores de 16 anos
Gênero Drama Nacional Thriller, suspense, terror (cinema de gênero)
Países de Origem Brasil
Sinopse

Tentando se proteger de uma rebelião trabalhista na fazenda de seu marido, Teresa, uma mulher branca da classe alta, se refugia dentro do seu carro blindado.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.